Epidemia de dengue em Bariri tem duas mortes suspeitas, gera caos na Saúde Pública e revela falhas da gestão Fernando Foloni no combate à doença

Epidemia de dengue em Bariri tem duas mortes suspeitas, gera caos na Saúde Pública e revela falhas da gestão Fernando Foloni no combate à doença

Com 492 casos e duas mortes suspeitas em investigação, Bariri vive um surto de dengue 10 anos após a última grande epidemia, registrada em 2014. Com o avanço da doença, a situação é de descontrole total na saúde pública local: o pronto-socorro da Santa Casa de Misericórdia está em superlotação e a estrutura se mostra insuficiente para atender a alta demanda.
De acordo com a gestora da Santa Casa de Misericórdia, Marina Prearo, o pronto-socorro vem recebendo, em média, 280 pessoas por dia: mais de 70% dos casos atendidos são sinais e sintomas de dengue. A estrutura de 265m² se mostra insuficiente para suprir a demanda da população baririense, que recorre à imprensa para expor o descontentamento com a Saúde Pública.
Nesta semana, a reportagem do Noticiantes foi acionada por moradores do Jardim Santa Helena, região dos altos da cidade. Por lá, muitos munícipes que contraíram a doença se mostraram insatisfeitos com o marasmo da Prefeitura Municipal de Bariri.
Moradora da rua Marcos Beluzzo, Roseli conta que sua filha pequena pegou a dengue e, logo após, ela própria também testou positivo para a doença. Ela teme que seu bebê, de menos de um ano de idade, também contraia dengue. 
“A gente fica numa situação que não consegue nem levantar da cama, sem força para nada. Fui duas vezes na Santa Casa e o atendimento foi aquele caos, muita gente com dengue. Eu desmaiei no pronto-socorro e, minha mãe, que estava me acompanhando, precisou gritar por socorro. Só melhorei depois de tomar soro. Fui direto no pronto-socorro porque, se a gente vai nos postos de saúde, eles mandam a gente para a Santa Casa e não resolvem. Cheguei no pronto-socorro 15h e saí às 19h30”, disse.
Alessandra Garcia, também moradora do Santa Helena, disse que seu neto, uma criança de três anos de idade, também contraiu a doença. Ela alega que moradores do bairro não têm mais recebido a visita de agentes epidemiológicos, chamou a atenção para a falta de ações municipais de limpeza pública e ainda sugeriu um ponto e atendimento exclusivo para pacientes da dengue por meio da Rede Municipal de Saúde.
“Levei ele na Santa Casa um dia a noite, medicaram e liberaram, mas voltei no outro dia com ele mal e tiveram que por soro nele. Na Santa Casa é muita gente, muita criança e a prefeitura não faz nada para resolver. Não tem agentes que passam mais nas casas, nunca mais recebemos visitas. Nebulização também, que antigamente tinha, não existe mais. Eles vão esperar acontecer uma tragédia? Tinha que ter um ponto de atendimento exclusivo para dengue, igual fizeram com a Covid-19. Se a prefeitura colocasse um caminhão para a população descartar os entulhos, acredito que todo mundo iria ajudar. Não teve mutirão de limpeza até agora”, lamenta a moradora. 

Mortes suspeitas, carnaval cancelado e estado de emergência

Nossa reportagem recebeu informação extraoficial de que um homem de 64 anos, que testou positivo para dengue, faleceu no último sábado (27). De acordo com a Vigilância Epidemiológica, o caso está em investigação para confirmar se a causa do óbito realmente foi dengue. 
Ainda segundo apuração da nossa equipe, o paciente possuía outras comorbidades, mas a dengue foi confirmada por exame de sangue em um laboratório particular.
Na madrugada de quinta-feira (01), outra notícia triste comoveu a comunidade baririense: a agente de combate a endemias Daniele Joana Ramos Caçador da Silva, faleceu aos 33 anos, após dar entrada no pronto-socorro da Santa Casa no dia anterior, com fortes dores abdominais.
De acordo com a diretora de Saúde Irene Chagas, não há como confirmar oficialmente dengue como causa da morte da servidora, uma vez que a pasta aguarda o resultado do exame realizado em São Paulo. Informações extraoficiais dão conta que Daniele contraiu dengue hemorrágica (a forma mais severa da doença) trabalhando; ela fazia parte do grupo de oito agentes que faziam o trabalho casa a casa para eliminar criadouros.
Ainda segundo Irene Chagas, outro agente da vigilância epidemiológica de Bariri está internado com dengue, em estado grave, na Santa Casa de Jaú.
Com a repercussão após a morte de Daniele, a Prefeitura de Bariri anunciou o cancelamento do evento de carnaval, marcado para ocorrer entre os dias 10 e 12 de fevereiro no Lago Municipal. Também no diário oficial desta quinta-feira (01), o prefeito Fernando Foloni decretou estado de emergência em saúde pública e montou comitê formado por 11 pessoas, entre agentes públicos, médicos, diretores e membros da sociedade civil.

Falta de atualização no cadastro de imóveis “trava” trabalho da Vigilância Epidemiológica 

De acordo com Neuziely Podanosqui, chefe do setor de Vigilância Epidemiológica, a região dos altos da cidade é a mais afetada, e todos os bairros registram casos da doença, sendo que o bairro Jardim Industrial tem apresentado um aumento significativo nos últimos dias.
Um grande desafio enfrentado pelo setor é a falta de atualização cadastral, que não permite a localização de proprietários de imóveis fechados. O cadastro de moradores é uma atribuição da Prefeitura Municipal de Bariri.
“Continuamos com dificuldades em relação às casas fechadas. Nesta semana mesmo, tentamos localizar o dono de uma casa com piscina. Nós não temos telefone, não temos atualização cadastral. Existe uma dificuldade grande de localizar o proprietário para realizar a vistoria na casa. De 10 reclamações, conseguimos contato com apenas três proprietários.
Outro dado que chama a atenção é que a vigilância epidemiológica conta com apenas oito agentes de combate a endemias, contratados pela prefeitura, para uma população de aproximadamente 35 mil habitantes.

 

"Prefeitura não seguiu orientações da SUCEN", diz vereador Edcarlos

Uma das principais reivindicações da população baririense é a respeito do chamado “fumacê”, um tipo de nebulização que, em anos anteriores, sempre foi utilizada em Bariri e que está sendo usado por todas as cidades vizinhas. O Poder Público afirma que tal ação não foi autorizada pela Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), órgão vinculado à Secretaria de Saúde do Governo Estadual. 
Diante do clamor popular em relação ao fumacê e outras medidas para combater a dengue, o vereador Edcarlos Santos se reuniu com técnicos da SUCEN nesta quinta-feira (01), mas obteve uma resposta diferente do que a prefeitura de Bariri vem divulgando.
Segundo ele, os técnicos iniciaram os alertas sobre uma possível epidemia de dengue desde o final de outubro (três meses antes da alta de casos estourar). Edcarlos obteve a informação, através dos técnicos da SUCEN, que a nebulização estilo “fumacê” é uma estratégia para matar mosquito adulto, mas o combate aos focos de larvas deve ser realizado antes.
“Diante do estado letárgico que se encontram o prefeito e da diretora de saúde com relação ao combate à dengue, eu resolvi procurar informações com funcionários da SUCEN, principalmente, porque foi noticiado que eles tinham proibido o fumacê na cidade, o que na conversa com eles, ficou claro que essa informação não procede e a explicação é um pouco mais complexa. Tudo começou com os alertas feitos no final de outubro e início de novembro com uma alta no índice larvário. Com esta informação, a Diretoria de Saúde deveria ter iniciado na cidade uma ação coordenada com outras diretorias para eliminação dos focos de criadouros da dengue; com campanha do “Cidade Limpa”, campanhas de conscientização da população, fiscalização dos terrenos com mato alto, casas fechadas, locais de acúmulos de lixo e a aplicação do larvicida, seguido de nebulização. Neste cenário, o fumacê seria uma estratégia para matar os mosquitos adultos. No entanto, mesmo com todos estes alertas, pouco fizeram de ação de combate à dengue, principalmente porque a secretaria da saúde não recebeu nenhum pedido de inseticidas por parte de Bariri, o que é muito estranho segundo os técnicos, portanto o resultado foi uma epidemia”, revelou o nobre.

Atualmente, a cidade está em estado epidêmico, neste caso o fumacê é insuficiente em Bariri, uma vez que a cidade apresenta um índice larvário muito alto. Nenhum tipo de nebulização consegue matar a larva do mosquito aedes aegypti.
“Como a situação está fora do controle, só o fumacê não resolve. Neste cenário, é necessário fazer outras ações, como por exemplo os bloqueios em áreas que tem muitos casos de dengue. Porém, toda a cidade e bairros estão com pessoas com dengue, o que demanda uma ação coletiva e em massa. É necessário fazer bloqueios em toda a cidade, limpeza de terrenos e casas, eliminação das larvas, nebulização e o fumacê entra no combate ao mosquito adulto”, continua Edcarlos.
“Além destas informações, os funcionários da SUCEN falaram sobre a importância da prevenção, do trabalho da equipe dos agentes da vigilância epidemiológica, do controle de vetores, principalmente no período da seca, da aplicação de inseticidas em barracões, escolas, e áreas de grande acúmulo de materiais, das campanhas de conscientização, das visitas diárias nas casas, da parceria com os agentes de saúde, da nebulização e outras ações que devem ser realizadas periodicamente. Está claro que as orientações que a SUCEN encaminhou, não foram obedecidas e agora tentam se justificar fazendo um jogo de palavras, que gera mais confusão do que esclarecimento, enquanto estão inertes e paralisados com o avanço da dengue, o povo sofre e paga muito caro pela incompetência dessa administração, finaliza o vereador.

 

O que a população de Bariri pede ao governo Fernando Foloni?

• Ponto de atendimento exclusivo para atender pacientes que contraíram dengue na Rede Municipal de Saúde;

• Mutirões de limpeza estilo “Cidade Limpa” para descarte de entulhos;

• Aumento do número de Agentes de Combate a Endemias nas ruas e visitação casa a casa mais intensa;

• Canal de atendimento (disk denúncia) para denunciar imóveis que acumulam entulhos e multas aos proprietários;

• Intensificação em ações de nebulização (larvicidas, nebulização costal e fumacê);

• Distribuição gratuita de repelentes para a população.