“Quando o que parece ser singular para uma pessoa e, no entanto, já está pré-estabelecido”
Quando no dia a dia, as pessoas estão em suas vivências, atividades e outras coisas mais, ao vivenciarem, executarem algo, isso é fruto de uma opção ou simplesmente estão dando continuidade a algo que de uma forma ou de outra iriam cumprir ou, por tabela, iriam ter que cumprir? As coisas que uma pessoa realiza, é por escolha ou faz parte do pacote e ainda que pense que está fazendo por opção, não é algo que consequentemente iria ter que realizar? Trataremos deste assunto neste artigo, onde o ponto de partida será uma fala de Lúcio Packter – sistematizador da Filosofia Clínica.
“Há pessoas que têm uma cultura formidável; tem um acervo, um repertório existencial muito grande de viagens, de literaturas, de coisas que viveram. Essas pessoas nos podem passar a impressão e a elas mesmas, de que elas têm escolhas, diante das coisas e, nada mais do que acontece nesses casos, muitas vezes, é um processo hierárquico sucessório de tomada de decisões, gerando para quem olha isso de uma maneira rápida, aquela ideia de que a pessoa tem escolhas diante do que está acontecendo.” (Packter)
Pois bem, uma pessoa pode pensar estar optando por determinado interesse e em grande parte, muitas vezes, ele já estar pré-estabelecido. Um exemplo: uma pessoa que queira ir até a cidade vizinha, ao se deslocar, um grande número de coisas já está afixado há um bom tempo e a menor parte, poderá em alguns casos, ser opção dela. Outro exemplo: a pessoa vai a um restaurante, e ao se dirigir aos aparadores com os alimentos servidos, se depara com o cardápio que já se encontra pronto, ou seja, antes de escolher já está determinado, e pouco, de fato se pode eleger. A pessoa poderá ter a impressão de que está escolhendo, mas na verdade os parâmetros já estão definidos para aquilo que é pretendido pela pessoa, ou seja, alimentar-se, o comportamento terá pequenas alterações, pois está praticamente posto. O essencial, o primário já se encontra aprontado e a opção que a pessoa pensa ser primária, genuína, na verdade é secundária. Desta forma, poderá pensar que está escolhendo por algo, no entanto está se enganando, pois tudo já se encontra pré-estabelecido, apenas está dando continuidade. Em outras palavras, tem a impressão de ser o princípio motor, quando na verdade é só uma engrenagem, assim como diz Packter: “A pessoa, tem a impressão de que está escolhendo alguma coisa, quando na verdade já está tudo definido e qualquer que seja a posição dela, nada mais é do que um elemento secundário.”
No consultório é possível perceber que – através do uso correto do “ferramental” – para algumas pessoas isso é tranquilo, mas para outras não é tão simples assim. Algumas se veem manipuladas, conduzidas e não se sentem buscando, não se sentem agentes, pilotos de suas histórias.
Nos movimentos existenciais, pode ocorrer de a pessoa, por tantos acontecimentos que já vivenciou dar a entender, não somente aos outros, mas a ela mesma, de que sempre optou, escolheu, quando na verdade não, ou seja, simplesmente “cumpriu tabela” e somente fez parte de alguma coisa muito maior que já se encontrava pronta. Não são poucas as ocasiões, em que uma função determina o comportamento de maneira quase que automática ao ponto de que apenas a pessoa tem a ideia de ter optado.
Como já dito, isso em si mesmo não é um problema. Algumas pessoas pelo fato de estarem dentro de algo pronto, estarão bem assim; para outras, pode significar que elas estão aí exatamente por terem preferido por isso, ou seja, o que estão buscando está aí. Também se deve considerar que algumas pessoas não optam, ou pouco escolhem, pois é assim que elas funcionam e, sendo assim para elas, não há um problema em si.
Mais um ponto importante a ser considerado: quando uma pessoa opta por algo, e consegue estar bem com a opção feita, tais escolhas podem funcionar bem por um determinado tempo, no entanto, com o passar do tempo pode acontecer de, por exemplo, perder o significado etc. Claro que isso pode acontecer! É pouco provável que uma pessoa consiga visualizar todos os movimentos associativos e como já se faz sabido, a Estrutura de Pensamento de uma pessoa é plástica e sendo assim, o que a pessoa elege hoje, poderá ser um entrave amanhã.
Desta forma, se tratando de Filosofia Clínica, para algumas pessoas oferecer meios para que ela prefira, opte, nem sempre é oportuno. Em alguns casos, fixá-la de forma dirigida será o melhor caminho. Algo, pré-estabelecido, para algumas pessoas funcionará bem, pois se a forma dirigida acomoda melhor a Estrutura de Pensamento, oferecer caminhos alternativos, poderá propiciar configurações de grandes complexidades. Desta forma, é preciso que haja séria contextualização.
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