Consultando arquivos: “O tamanho da existência”
Não é raro pessoas chegarem ao consultório queixando-se de que “a vida está pequena”; de que “não há sabor em viver”; de que “a vida não é mais como era”; de que “nada mais é novidade e tudo está muito comum” etc.
Assim como o corpo pode se limitar, e isso pode ser bem natural, nosso pensamento também pode deixar movimentos diversos e estes limitar o campo de ação da Estrutura de Pensamento.
Em nossos dias, é habitual um número significativo de pessoas terem rotinas. Portanto, será considerada esta realidade como ponto de referência para o tema aqui apresentado.
O fato de uma pessoa com frequência recorrer a movimentos conceituais ao longo do dia, poderá enfraquecer outros movimentos, pelo fato do discurso ocorrer sempre em torno de um mesmo assunto.
Um recorte de uma conversação do sistematizador da Filosofia Clínica para exemplificar: “Imagine uma pessoa que todos os dias durante muitos anos levanta no mesmo horário, pega o automóvel da mesma maneira, ela se dirige para o trabalho pela mesma estrada com os mesmos pensamentos, ruminando os mesmos problemas, seguindo na mesma direção. Abre o escritório dela com a mesma chave, da mesma maneira empurra a porta, abre o escritório como habitualmente. É bem provável, que com o tempo, essa pessoa já não veja mais as flores que crescem pelo caminho, com o tempo provavelmente ela não ouça mais a música como ela ouvia, com o tempo provavelmente ela deixe de perceber uma série de coisas que havia na vida dela exatamente por fazer tudo da mesma maneira. Seria como se colocasse um cabresto sobre a face e não pudesse ver nada daquilo que está acontecendo fora do que acontece normalmente com ela.” (Packter)
Nos movimentos internos também poderá uma série de acontecimentos que a levava a pensar, imaginar, desejar, buscar coisas que habitavam sua vida e por estar recorrentemente dia pós dia vivenciando a partir dos mesmos pensamentos, não notar mais que muitos lances estão acontecendo fora do movimento conceitual, fora do pensamento dela e, consequentemente, tudo ficar muito pesado, sombrio, sem sentido, exatamente por estar fazendo sempre da mesma maneira.
Novamente outro recorte de significativa importância e abrangência do sistematizador da Filosofia Clínica: “Há muitos fenômenos, muitos casos na história da humanidade, e isso pode acontecer não apenas com pessoas, mas com povos inteiros que, às vezes, se resignaram a um estado de coisa e deixaram que a vida simplesmente sumisse e adormecesse.” (Packter)
Dias atrás uma pessoa dizia no consultório que a vida dela “repousava há muito tempo”. O interessante é que se ela notou isso, provavelmente se deu pelo fato ter “acordado”. Porém, há pessoas que ao vivenciarem movimentos assim, não conseguem detectar o que é que está acontecendo, apenas vão se desmotivando e vendo tudo muito pequeno, sem sentido o que realizam e, curiosamente não se motivam para outras coisas, pois não as notam, não as observam.
Em seguida a pessoa perguntou-me o que ela deveria fazer “para acordar a vida”. Não há um plano definido aqui, mas algumas dicas: De maneira bastante simples, começar a colocar nas rotinas pequenos movimentos que caibam ali sem grandes alterações, poderá começar a abrir novos campos internos e suscitar novas configurações. Como seria? “Se ao invés de olhar para as montanhas, olhe também para o rio, se isso fizer sentido para pessoa, se tiver a ver com ela; se ao invés de falar só de política, falar também sobre o clima, falar também sobre poesia, se tiver sentido e a ver com a pessoa.” (Packter). Se a pessoa falar sempre de um mesmo assunto, provavelmente, os movimentos conceituais estarão sempre em torno das mesmas configurações. Ao inserir outro assunto, novas configurações começarão a aparecer e com isso a “vida repousada” poderá despertar. Lembrando que: isso não é mágica!
No entanto, a que se considerar também, que algo assim nem sempre é ruim, pois, para algumas pessoas um mundo rotineiro e um pensamento fixado em apenas alguns movimentos poderá ser sem dúvida, sinal de segurança para ela e tantas outras coisas.
Estes pequenos movimentos poderão ajudar a reverter processos onde a pessoa sente que a vida está “dormida”. Para algumas pessoas poderá ser assim, ou seja, perceber o surgimento de novos sabores, novos gostos etc.
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